Terça-feira, 1 de Dezembro de 2009

 

            Como anteriormente referimos, a casa nobre lousadense fixou-se nas proximidades dos Rios Sousa e Mesio, devendo-lhe em parte a sua expansão. Partindo deste princípio, agrupamos as vinte e duas casas nobres em dois grupos: Casas construídas na área do Rio Sousa e Mesio.

 

 Casas construídas na área do Rio Sousa.

 

Casa Grande de Vilela.

 

         Manuel Pinto de Magalhães, foi o primeiro proprietário desta casa em 1758,370 sucedeu-lhe D. Maria Josefa Pinto de Magalhães Coelho, sua filha, que nasceu a 26 de Outubro de 1727, em Aveleda e faleceu a 22 de Setembro de 1782, com escritura dotal, e contando com um funeral de 156 padres.371 O seu filho António de Magalhães Coelho Seixas, foi também senhor desta casa. Nascido em Vilela, foi bacharel em direito pela universidade de Coimbra, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo e Juiz de Fora de Penafiel.372

É uma residência que pertence à mesma família há várias gerações e que detinha o “Privilégio das Tábuas Vermelhas,”373 isto é, foi uma das trezentas casas do reino nomeadas por D. Afonso V para fazer a colecta de impostos, e possuía, por essa razão, determinadas regalias, a saber: não pagar impostos; os homens que viviam no seu domínio não eram obrigados a ir para a guerra; se alguém andasse fugido à justiça e entrasse na capela de Nossa Senhora de Oliveira não podia ser preso ou castigado enquanto lá permanecesse, cabendo em exclusivo ao senhor da casa a autorização decisiva.374 Manuel Pinto de Magalhães era o principal possuidor de bens e terras do lugar de Vilela, e a casa chamava-se Grande “por ser o dito Manoel Pinto de Magalhaens possuidor da maior parte dos bens daquelle Lugar de Vilella.375

            A sua história arquitectónica, como de todas as casas nobres deste concelho, é desconhecida, já que não há um contrato de obra que nos permita datar com precisão a sua construção, tal como acontece com praticamente todas as outras edificações concelhias. Não poderemos fazer, portanto, a sua cronologia. No decurso da nossa investigação deparámos com determinadas referências, que, apesar de julgarmos pouco consistentes, não queremos deixar de citar: nomeadamente a alusão a que esta casa teria sido edificada no século XVIII. No sítio da Associação de Municípios do Vale de Sousa afirma-se: “A casa mostra padrões arquitectónicos ao gosto do século XVIII, apesar das transformações do século XIX.”376

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366 - FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. - o. c., p. 18.

367 - STOOP, Anne - o. c., p. 12.

                  Começou por ser uma grande casa de lavoura, como quase todas as actuais casas nobres de Lousada. O edifício primitivo tinha apenas a dimensão dos primeiros dois panos da fachada Este, e segundo os actuais proprietários, em meados do séc. XIX, foi objecto de restauro e de acrescentos. Nos anos cinquenta da centúria de novecentos, volta a sofrer um profundo restauro, época em que é corrigido o alinhamento da cornija e do telhado. Em 1989 beneficiou de um significativo programa de obras, tal era o seu estado de degradação, uniformizando-se a fachada principal, transformando-se a portada do terceiro pano em janela e acrescentadando-se mais duas janelas. Isto é, não possuía, em 1988, no rés-do-chão, à esquerda do terceiro pano, as três janelas molduradas e gradeadas, mas sim uma portada, e só em 1989 é que foram executados tais acrescentos.

                  O corpo da fachada principal, virada a Este, foi dividido, verticalmente, por pilastras, que criaram três zonas e três panos. No rés-do-chão, no primeiro pano, apresenta-se uma portada moldurada. O mesmo ritmo acontece no segundo pano. No terceiro pano, à esquerda, vêem-se três janelas de peitoril gradeadas. Enquanto no andar nobre, no primeiro e segundo panos, se abre uma janela de sacada dupla, em cada pano, e no pano à direita, quatro janelas de sacada. A fachada Oeste, no rés-do-chão, exibe duas portadas, e, no primeiro piso, duas janelas de peitoril. Na fachada Sul, vislumbra-se uma janela de peitoril. A fachada Norte, foi dividida, verticalmente, por uma pilastra; criando duas zonas e dois panos; no rés-do-chão, à direita, há uma portada e uma janela de sacada, enquanto à esquerda se vêem duas portadas, uma janela de peitoril gradeada e uma escadaria em dois sentidos que nos conduz a uma portada moldurada com duas janelas de sacada, à direita, no primeiro andar.

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368 - STOOP, Anne - o. c., p. 12.

369 - Casas de Sousa Associação de Turismo Rural do Vale de Sousa. - o. c., p. 20.

370 - I. A. N./ T. T. - Dicionário Geográfico. 1758, vol. 5, fl. 847.

371 - FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e - Carvalhos de Basto. Porto: [s/e], 1981, vol. III, p. 90.

372 - FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e - o. c., p. 90.

373 - Casas de Sousa Associação de Turismo Rural do Vale de Sousa. [s/l]: [s/e], [s/d], p. 20. Cf. À Descoberta de Lousada. - Aveleda. Lousada: Edição do Agrupamento de Escolas Lousada - Norte - Nónio Séc. XXI, 2001, p. 11.

374 - Casas de Sousa Associação de Turismo Rural do Vale de Sousa.- o. c., p. 20. Cf. À Descoberta de Lousada. - Aveleda. o. c., p. 11.

375 - I. A. N./ T. T. - Dicionário Geográfico. 1758, vol. 5, fl. 851.

 

                  No interior da capela existe uma pedra com a seguinte inscrição: “Manoel Pinto de Magalhaens Coelho e sua mulher Maria Jozefa/ Pinto de Azevedo, senhores da caza/ e pesohidores que foraõ desta quinta, da Caza Grande, chamada de Villela, nel/la mandaraõ fazer esta capella com o/ titullo de Nossa Senhora da Oliveira, com a concideraõ/ de serem seus cazeiros previlegiados como/ prvilegio das Taboas Vermelhas, das mesmas da uma de Guimarens; e nella deixaraõ/ hum legado de missas todos os domingos e dias santos/ do ano e as tres dias de Natal, enquanto o Mundo durar/. E aplicadas por modo de sufragio pellas suas almas de hum e de outro/ e pellas de seus pais. E mais de hum e de outro/, e para pagamento das ditas missas/ deixaraõ humas terras de herdade que se compraraõ/ a Maria Vieira, uma do lugar de Pinheiro, freguesia de Santa Maria de Airaens, / concelho de Filgueiras. Como taõ bem as duas besadas, chamadas de Sub-Cartaõ/ (…) tudo obrigado ao dito legado e o mais que sobejar será/ para o herdeiro dos ditos legatários e seus sucessores/. A ajuda da fabrica da dita capella e veneraçaõ della foi fe/ita esta pedra e acabada a 26 de Março de 1756. A./377

A fachada Norte da capela de Nossa Senhora de Oliveira é rasgada por um portal moldurado que tem a coroá-lo, no tímpano, uma pequena edícula; uma cruz trilobada encima o frontão. As pilastras são sobrepujadas por pináculos. Na fachada Norte, por cima do frontão, uma cruz apontada, e na fachada Oeste um portal moldurado. O campanário coroa a cornija no enfiamento do portal sendo constituído por um arco de volta perfeita, encimado por uma cruz latina e dois pináculos.                                                                                                                                                                                     

            Tanto o campanário como o portal das capelas da Casa Grande de Vilela (Lousada), à esquerda, e da Casa e Morgado de Ribaboa (Penafiel), à direita, são muito semelhantes na sua forma. Aliás, estas duas fachadas só divergem na abertura que a capela da Casa Grande de Vilela apresenta à direita da portada.     

 

 



publicado por José Carlos Silva às 20:22 | link do post | comentar

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